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domingo, 15 de janeiro de 2012

UFC Rio por Diego Marcell


         Se no primeiro UFC no Rio de Janeiro Minotauro vertia uma solitária lágrima de sangue ao nocautear um nocauteador após seu longo período de sofrimento devido operações, tempo parado e meses de muleta; e o ultimo ex-campeão meio-pesado martelava a cabeça daquele que o derrotou em sua estréia no evento o também ex-campeão Forrest Griffin, Shogun parecia realmente um líder samurai executando movimentos suaves e aguardando a hora de atacar.  
O jovem Edson Barboza faz uma luta lindamente plástica contra o inglês Ross Pearson e influenciado pelo poder de lutar em casa leva por decisão dividida a luta segundo dois dos três jurados, e ambos os lutadores merecidamente recebem como prêmio a “luta da noite”. Em seu retorno a cidade maravilhosa, Barboza enfrentando um lutador menos brilhante, não apresentou tantas armas de seu Muay Thai enquanto o meio temporal de seu confronto discorria, em meados do ultimo round, porém, segundo suas próprias palavras, o Deus o iluminou para o show de um card a principio criticado, mas que ali já não deixava expectativas inferiores ao anterior, um chute rodado, num corpo treinado em um ser iluminado, o nocaute que enquanto houver vida humana na terra, será reprisado; um dos nocautes mais belos de todos os tempos que faria todo ficcionista regozijar de êxtase ao ver que suas plasticidades cinematográficas eram possíveis naquele chute perfeito.
Toquinho que em sua primeira apresentação 5 meses antes, havia proporcionado mais uma bizarrice em sua carreira de dualismo “habilidade vs brutalidade”, ao decretar-se vencedor após uma sequencia de socos no adversário, tendo de retomar ao embate após o próprio adversário crer que havia sido derrotado naquele momento e o arbitro ter ficado sem saber o que fazer com tal situação; desta vez, já no card principal, recebendo a melhor finalização da noite no que lhe é natural, quando o adversário sentiu Toquinho pegando seu calcanhar, percebeu que não havia nada mais o que fazer e num flash de segundo deve ter imaginado suas articulações do joelho serem prejudicadas antes mesmo do fato ocorrido, num olhar de desespero,  na expressão do seu rosto, ele foi o mais rápido que pode em desistir, antes que não conseguisse voltar para casa por suas próprias pernas.
O arbitro brasileiro Mário Yamazaki, que já demonstrou ser confuso em alguns casos, neste segundo evento carioca, demonstrou ser desejável em aparecer além de seu papel, ao desclassificar um cara de personalidade genial dentro dos cages, e como o próprio Dana disse, manchando seu histórico com um excesso de precisão jamais visto em outras lutas, sendo que não me lembro de desclassificação desta forma num lance tão “suave” comparado a tantas pancadas aplicadas no mesmo lugar por pesos-pesados de mãos pesadíssimas. Eles deveriam por justiça aplicar um “sem resultado” nestes casos, sendo que estes exemplos de vitórias por desclassificação é um reflexo distorcido da realidade, como vimos no confronto pífio entre Anderson Silva e Yushin Okami, um japonês escolhido por ter sido o ultimo a derrotar o campeão, mas que se sentiu constrangido pela guarda baixa do brasileiro que o encarava, um cara que tem a oportunidade de desafiar o campeão deve dar sua vida dentro daqueles cinco rounds, mesmo que perca, mesmo que seja nocauteado ou submetido, honre a oportunidade de enfrentar o campeão, a oportunidade que lhe concederam, assim como tantos outros fizeram e que este representante de um país que se diz referencia no assunto e que por tanto tempo transmitiu as artes marciais ao mundo, não conseguiu fazer.
Finalmente chegamos ao homem que carrega em sua áurea muita coisa além de um simples lutador, muito superior a possuir o mesmo titulo por muito tempo, a representatividade de Belfort é mística no MMA e no UFC. A principio eu achava que o Johnson era só mais um que vinha para cair em poucos segundos, mas nas prévias pude ver que apesar de não possuir uma estrela especial, ele era uma pedra no caminho da glória, ainda mais quando um cara que lutava nos 77 Kg não consegue bater os 84 que a nova categoria exige, e um Vitor tendo que perder cinco quilos 24 horas antes da pesagem e cumprir e se apresentar desidratado na encarada, a festa começava a apresentar problemas. Mas como o próprio declarou depois da luta, relembrando os primórdios do UFC, quando se lutava duas, três vezes na noite com caras muito maiores, Vitor estava focado em cumprir com a proposta de lutar em casa. Olhando de fora, pareceu uma luta mais difícil que outras com lutadores mais renomados, muito em vista do que aquilo representava, na forma de luta do oponente, e de como tudo estava acontecendo, mas este homem também possui um Deus que o ilumina, e se Ele escreve certo por linhas tortas, sua derrota um ano antes deve apresentar um propósito superior, e lutando em casa, em tevê aberta, o cara do vale-tudo, no glamour do Mixed Martial Arts relembra que é discípulo também de um grande mestre nacional, o fenômeno de Carlson Gracie esgana o galo para terminar uma luta como a uma década não fazia, finalizando como um faixa preta de Jiu-Jítsu brasileiro.
E nada melhor que encerrar um dia escolhido pelos deuses das lutas com o menino da favela enfrentando o boyzinho americano, o já incontestável campeão José Aldo Jr. enfrentando o lutador de wrestling invicto a onze lutas Chad Mendes, para provar que por mais que os americanos com suas necessidades de vender uma história de superação e supremacia do seu povo baseado numa venda da imagem perfeita da “força familiar”, dos detalhes sentimentais explorados para uma comoção nacional, os brasileiros só querem esquecer tudo isso e vencer, porque nós não precisamos vender aquilo que a realidade nos deu como verdade social para Conquistar, e José Aldo é a materialização disso ao vencer no ultimo segundo do primeiro round o garoto americano e encerrar na maior expressão de brasilidade que o UFC poderia ter, se misturando com o povo, o garoto da favela que era naquele momento a representação da possibilidade que o ser humano tem de vencer na vida independente de onde ele tenha saído, ao mesmo tempo ele retornava a sua origem de anônimo em meio a multidão cumprindo o ciclo na metáfora que abarcou todo o evento como reflexo do Brasil social, cultural e também exportador. Neste dia, para o mundo das lutas aquela profecia do fim do mundo poderia ser verdadeira, já que o Ultimate Fighting Championship criado pelo Brasil cumpria seu ciclo no dia 14 de janeiro de 2012. Todos os mestres das artes marciais da história se rendiam ao espetáculo que sabiam ser iluminado por um Deus que os escolheu, surgindo em cada cultura a milhares de anos, até culminar no clã chamado Gracie na era da globalização.

Diego Marcell
15-01-2012

Um comentário:

  1. Surpreendentemente fantástico, uma bela canção a um evento espetacular... cada vez mais você tem sabido extrair a poesia-essência do cotidiano...

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