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sábado, 2 de junho de 2012

Mídia e MMA: fabricando falsos mitos



            As formas apelativas com que se vendem os espetáculos e que apresentam os eleitos, a forma que nos lançam goela a baixo aquilo que pertence aos poderosos, simplesmente me parece uma afronta a inteligência social brasileira, que facilmente afirma ser verdadeira sua ignorância ao comprar os ídolos melhores situados nas vitrines.
            Se Romário denunciava a poeticidade de Pelé quando este estava calado, o que pensar quando o assunto é MMA e seu grande “ídolo”? Anderson Silva calado e dentro da jaula é gênio, fora dela não me interessa saber, mas nas atuações de marketing propostas por seus empresários e patrocinadores é um fiasco, me causa constrangimento ver Anderson em palavras, ele está anos luz de Pelé quando o assunto é expressão não-esportiva. Querem fazer dele o pop star que jamais será por natureza, não tem cacife pra isso, e no que ele poderia ser, baseado em seu talento e criatividade nas lutas, um “mestre” afro-brasileiro da arte tailandesa, mas não; em nome da grana, da fama, da interatividade característica dos seus empregadores, ele prefere abdicar da sua aspirante candidatura a Rei sendo Zulu e Rickson, para ser um Zorra Total de Ronaldo Fenômeno que junto a rede Globo são os criadores de falsos mitos.
            Depois da pioneira “luta do século” ser uma frustração, agora aparece a imprensa vendendo a segunda luta entre Anderson e Sonnen como “a luta do século”, que propaganda babaca e barata, até 2100 quantas lutas do século teremos? Só existe “a luta do século” depois dela acontecer, e provavelmente não será numa disputa de cinturão, ou com os maiores campeões de seu tempo, estes geralmente estão concentrados na venda do seu produto e não na honra de um épico sem terceiras intenções, além do mais esta eleição ficará a cargo do tempo, na memória da tecnologia que irá provar pelo olhar imparcial do futuro a obviedade do ato com pequenas variantes da subjetividade critica dos indivíduos do sempre. Por isso temos um ídolo atemporal e cosmopolita como Royce Gracie, porque este não foi feito pela mídia, mas pela honra de seres humanos que suaram sangue, independente da falsa honra de habitar no Olimpo imaginário dos homens, Royce, Mauricio Shogun, Lyoto Machida, José Aldo, Cigano e Minotauro que apesar de assim ser chamado habita entre homens, todos eles foram fracos e suas fraquezas só existiram para provar suas forças diante da humanidade e do esporte, alguns que ainda são jovens devem saber envelhecer para não parecerem e aparecerem anacronicamente como deuses abestalhados, a eternidade não está na invencibilidade, mas na importância dos seus atos e na particularidade característica destas pessoas para este universo de luta e de seres humanos.
            Retornando ao tema principal e pegando um gancho (no sentido pirata e não Eder Jofreano) no pensamento de Marcelo Rubens Paiva: quando apresentarem algo ‘do século’, imagine como seria uma coisa ‘do milênio’? daqui a pouco o excesso de formandos em marketing e a falta de ideias não tardará de eleger precipitadamente um substituto qualquer para o Spider para esta luta milenar, provavelmente entre Jon Jones e um lutador ainda desconhecido para nós do presente ou do passado; sendo que em quase 20 anos de UFC continuo ouvindo uma quantia razoavelmente grande de “maiores de todos os tempos” até um deles perder duas lutas seguidas e ser aposentado rapidamente pela falta de interesse daqueles que possuem o direito de transmissão dos eventos ao vivo. Disto é feito a mídia, de fabricar mitos efêmeros que servem de alimento para si, um monstro real e poderoso capaz de manipular o presente, mas não tão poderoso a ponto de vencer o tempo.

Diego Marcell 02-06-2012

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